Já começo esta conversa pedindo desculpas. O título original deste artigo era "A angústia do sucesso instantâneo", mas resolvi mostrar no próprio título como somos influenciados pela facilidade, pela agilidade, pelos moldes.
Em uma única semana devo ter visto mais de 50 links diferentes para os "10 caminhos da felicidade", "8 formas de ganhar mais dinheiro", "5 maneiras de subir na vida sem usar escadas" ou qualquer coisa deste tipo, e imagino que com vocês não deva ter sido diferente.
Hoje imprime-se tamanha aceleração nos negócios e nas comunicações que já não temos tempo de refletir suficientemente sobre nossas ações, quem dirá refletir e formar uma opinião consistente sobre qualquer assunto.
Flutuamos num mundo de certezas fugazes que se dissipam na névoa dos tuites e nas ondas do imediatismo. A solidez de outros tempos se esvai nas palavras do bom Bauman1. E como lidamos com esta “nova” realidade? Tenho apenas um binômio, bem antigo, para isso: estudo e prática.
Tente listar os momentos em nossas vidas nos quais podemos ignorar os estudos ou, de outra forma, seja cabível discriminar o conhecimento aplicado. Tanto a academia enfrenta críticas cotidianas por seu suposto hermetismo quanto o mercado se dá ao luxo de gerar um processo antropofágico a cada novo ano fiscal.
Nesta evolução galopante (alguns diriam involução), quem perde a órbita somos nós, os humanos que constroem e habitam estas mesmas estruturas. Tentamos achar nas apresentações, nos slides e manuais de bolso uma forma rápida de solucionar problemas e conflitos instantâneos. E neste contexto, inclusive a leitura se obriga a ser instantânea, a fim de atender aos tempos que de regalo nos sobram ao fim do dia.
Lemos com uma desatenção aplicada. Um esforço enganoso e até hercúleo. E ao final, completada a leitura, passamos para o próximo link, sem fazer juízo algum de valor. Moral da história: não tem história, quem dirá moral.
O consumo desenfreado de comunicações, marcas, produtos, cria em nossa mente um espaço em suspensão. Lemos sem saber do que se trata, falamos sem lembrar do que lemos e apoiamos/rejeitamos sem querer aprender mais sobre as coisas.
Mas vale uma boa ressalva aqui. Há momentos que os "10 isso" ou "8 aquilo" são cruciais para orientar nossas ações em meio a tanta velocidade e tantas mudanças. Bons exemplos são as nossas metas, quantificáveis e determináveis. Atribuir, como bem propõe o Prof. Dr. Mitsuru Yanaze2, pesos e prioridades para nossas aplicações faz com que tenhamos modos cabíveis de optarmos entre diferentes caminhos ao longo de nossas jornadas e a cada novo desafio.
Dos Objetivos do Milênio até as metas de uma mobilização interna pela redução de burocracias, tudo se mostra quantificável, o problema está em tentar transformar um aprendizado longo e contínuo, eminentemente qualitativo, em pequenos pontos mágicos que, no repente, farão de nós os maiores sucessos de que se tem notícia.
Se não entreguei a vocês os 10 passos para o sucesso que prometi no título, os dois primeiros já estão ditos, estudo e prática, mas os outros 8 ainda estão por vir. Tanto estes passos quanto os outros mais que são necessários para edificar uma história verdadeiramente de sucesso, que só pode ser trilhada de modo único, serão dados por cada um de nós, sem precedentes.
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1 - Zygmunt Bauman, autor de livros como "Modernidade Líquida", "Amor Líquido" e "Identidade".
2 - Prof. Dr. Mitsuru Yanaze, autor de "Gestão de Marketing e Comunicação" pela Editora Saraiva.
Mauricio Felício
mauricio.rp.usp@gmail.com
@mauriciofelicio atua no setor farmacêutico, com formação em Relações Públicas pela USP. Atualmente é professor conferencista da ECA-USP. Além de cursar MBA em Gestão de Comunicação e Marketing (USP/Florida University), é pós-graduando em Mídias Digitais (USP).
Material do site Aberje, disponível em:http://www.aberje.com.br/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=292&ID_COLUNISTA=25
Em uma única semana devo ter visto mais de 50 links diferentes para os "10 caminhos da felicidade", "8 formas de ganhar mais dinheiro", "5 maneiras de subir na vida sem usar escadas" ou qualquer coisa deste tipo, e imagino que com vocês não deva ter sido diferente.
Hoje imprime-se tamanha aceleração nos negócios e nas comunicações que já não temos tempo de refletir suficientemente sobre nossas ações, quem dirá refletir e formar uma opinião consistente sobre qualquer assunto.
Flutuamos num mundo de certezas fugazes que se dissipam na névoa dos tuites e nas ondas do imediatismo. A solidez de outros tempos se esvai nas palavras do bom Bauman1. E como lidamos com esta “nova” realidade? Tenho apenas um binômio, bem antigo, para isso: estudo e prática.
Tente listar os momentos em nossas vidas nos quais podemos ignorar os estudos ou, de outra forma, seja cabível discriminar o conhecimento aplicado. Tanto a academia enfrenta críticas cotidianas por seu suposto hermetismo quanto o mercado se dá ao luxo de gerar um processo antropofágico a cada novo ano fiscal.
Nesta evolução galopante (alguns diriam involução), quem perde a órbita somos nós, os humanos que constroem e habitam estas mesmas estruturas. Tentamos achar nas apresentações, nos slides e manuais de bolso uma forma rápida de solucionar problemas e conflitos instantâneos. E neste contexto, inclusive a leitura se obriga a ser instantânea, a fim de atender aos tempos que de regalo nos sobram ao fim do dia.
Lemos com uma desatenção aplicada. Um esforço enganoso e até hercúleo. E ao final, completada a leitura, passamos para o próximo link, sem fazer juízo algum de valor. Moral da história: não tem história, quem dirá moral.
O consumo desenfreado de comunicações, marcas, produtos, cria em nossa mente um espaço em suspensão. Lemos sem saber do que se trata, falamos sem lembrar do que lemos e apoiamos/rejeitamos sem querer aprender mais sobre as coisas.
Mas vale uma boa ressalva aqui. Há momentos que os "10 isso" ou "8 aquilo" são cruciais para orientar nossas ações em meio a tanta velocidade e tantas mudanças. Bons exemplos são as nossas metas, quantificáveis e determináveis. Atribuir, como bem propõe o Prof. Dr. Mitsuru Yanaze2, pesos e prioridades para nossas aplicações faz com que tenhamos modos cabíveis de optarmos entre diferentes caminhos ao longo de nossas jornadas e a cada novo desafio.
Dos Objetivos do Milênio até as metas de uma mobilização interna pela redução de burocracias, tudo se mostra quantificável, o problema está em tentar transformar um aprendizado longo e contínuo, eminentemente qualitativo, em pequenos pontos mágicos que, no repente, farão de nós os maiores sucessos de que se tem notícia.
Se não entreguei a vocês os 10 passos para o sucesso que prometi no título, os dois primeiros já estão ditos, estudo e prática, mas os outros 8 ainda estão por vir. Tanto estes passos quanto os outros mais que são necessários para edificar uma história verdadeiramente de sucesso, que só pode ser trilhada de modo único, serão dados por cada um de nós, sem precedentes.
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1 - Zygmunt Bauman, autor de livros como "Modernidade Líquida", "Amor Líquido" e "Identidade".
2 - Prof. Dr. Mitsuru Yanaze, autor de "Gestão de Marketing e Comunicação" pela Editora Saraiva.
Mauricio Felício
mauricio.rp.usp@gmail.com
@mauriciofelicio atua no setor farmacêutico, com formação em Relações Públicas pela USP. Atualmente é professor conferencista da ECA-USP. Além de cursar MBA em Gestão de Comunicação e Marketing (USP/Florida University), é pós-graduando em Mídias Digitais (USP).
Material do site Aberje, disponível em:http://www.aberje.com.br/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=292&ID_COLUNISTA=25
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