Gabriela Bittencourt
Romper com conceitos, empreender e criar produtos, serviços e soluções diferentes. Esses são alguns dos meios de se alcançar a almejada inovação. Listados dessa forma parecem qualidades fáceis de ser incorporadas pelas organizações. Mas, para ser inovador, não há uma receita pronta. No entanto, um fator considerado básico para que ela aconteça no ambiente de trabalho ou junto ao consumidor é o estímulo à cocriação e à colaboração.De acordo com Ana Erthal, mestre pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professora da ESPM Rio, Uerj, iMasters Pro e Infnet, inovar é um grande diferencial para as empresas hoje, independentemente do tamanho. Para ela, organização que não inova, melhorando serviços e produtos, corre o risco de ser ultrapassada por aquelas que tenham a busca pela inovação como pauta de negócios. E um ótimo caminho para evitar esse destino é abrindo espaço para a coautoria.
“Inovar não é, e nunca foi, um ato isolado. Para inovar de fato, é necessário estar conectado às pessoas em todos os níveis da cadeia produtiva da empresa ou do produto. Vivemos o tempo do trabalho em rede. A empresa que quer inovar deve ter em mente que inovação é um jogo ‘multiplayer’, em que a capacidade de descobrir, conectar, mobilizar e criar são fundamentais”, afirma.
Especialista em knowledge management&inovation, Alfredo Mendívil, da consultoria Lise Chaves, também aposta nas pessoas como peças do motor da inovação. “A inovação depende e inicia-se com elas. As máquinas, por si, não inovam. O conhecimento, que permite que a inovação aconteça, está nas pessoas”, opina.
Estudos indicam que, em média, 80% do conhecimento organizacional é tácito. “Sendo assim, as organizações devem investir na construção de uma cultura inovadora, desenvolvendo habilidades nas pessoas, cultivando valores que a sustentem e criando ferramentas, processos, indicadores e uma rede de inovação”, defende.
Segundo Mario Castelar, diretor da consultoria de comunicação Ponto Paragrapho e autor do livro ‘Marketing da Nova Geração – como competir num mundo globalizado e interconectado’, não há inovação nas empresas sem cooperação, trabalho em grupo e open inovation. “As empresas que apostam nesse jeito de fazer inovação ganham velocidade, sensibilidade e ficam mais próximas das pessoas”, diz Castelar, que já foi diretor de Inovação da Nestlé Brasil. “A busca da inovação é uma forma de manter competitividade assegurando a fidelidade”, completa.
Do virtual para o organizacional
Para Ana Erthal, o advento das mídias digitais fez com que a coautoria se tornasse uma marca da cultura contemporânea. Diante dessa mudança, as empresas precisam lidar com uma comunicação horizontalizada, direta, tanto com colaboradores, quanto com clientes.
“Se há menos de 10 anos falar com o presidente da empresa era algo impossível, hoje, qualquer colaborador pode se expressar abertamente nas centenas de "blogs de CEOs" que existem por aí. Se não tínhamos canais para entrar em contato com as empresas, para reclamações ou elogios, agora temos excedente de canais. Hoje é inconcebível uma empresa ter site e não ter publicado nele todos os seus canais de atendimento, incluindo os perfis nas redes sociais”, observa.
Para isso, Mendívil reafirma a necessidade de construir e desenvolver redes, internas e externas, de colaboração. “Impulsionado pela globalização, o conhecimento está a um clique de distância, graças ao advento e crescimento da internet. Isto significa que, do ponto de vista organizacional, ele está também ao alcance dos concorrentes. Vencerá o jogo competitivo aquele que souber melhor se utilizar de todo este espectro de conhecimento”.
Inovação que vem de dentro... e de fora
Na Vale, por exemplo, a criação de um ambiente favorável à colaboração é visto como fundamental. “Nossa perspectiva está voltada para a questão da inovação. E a colaboração é condição para ela acontecer. Com uma equipe multidisciplinar atuando em conjunto, permitimos diferentes ângulos para a busca do inovador”, afirma Ana Cláudia Freire, gerente de gestão da inovação da mineradora.
Exemplo desse incentivo à participação dos colaboradores nos processos e rotinas da empresa é o programa Inova Vale. A iniciativa pretende fomentar a inovação estimulando as contribuições do capital humano da companhia. Na edição de 2009, segundo Ana Cláudia, foram 7,1 mil ideias propostas pelos colaboradores no decorrer de um mês. “Dessas sugestões, 30% eram viáveis e capazes de gerar valor para a empresa. Esse é um resultado bastante importante e mostra que a melhor forma de inovar é envolvendo o organizacional”, comenta.
Segundo Mendívil, ao criar um espaço que estimule o trabalho em equipe, a cooperação e auxílio, a cocriação na organização ocorrerá naturalmente. “Isso tanto nas redes internas como nas externas. E é claro que o consumidor é uma fonte inesgotável de conhecimento sobre o produto da empresa. Então, por que deixá-lo de fora desta rede?”, interroga.
Gestão da inovação
Criado um ambiente organizacional que incentive as contribuições internas e externas à empresa, é preciso gerir essas participações. Ana Erthal aposta na criação de um Núcleo de Inovação dentro das equipes.
“Esse setor reúne profissionais multidisciplinares em reuniões periódicas em que são discutidas todas as ações de inovação que a empresa demanda: desde a criação de um blog corporativo passando pela reformulação de um produto a um novo esquema no processo da manufatura ou estudo da precificação das congêneres”, exemplifica.
Com experiência em gestão de inovação, Castelar acredita que um gerente ou diretor nessa função deve ser capaz de coordenar equipes de forma a mantê-las motivadas para um trabalho cujos resultados não acontecem no curto prazo.
“Devem ser capazes de trabalhar com estruturas matriciais, em que as propostas não têm donos e todos são subordinados ao projeto. Suas qualidades, além da capacidade de liderança, devem ser humildade, simplicidade, coerência, ética e transparência”, lista.
Papel do comunicador
Se na Vale a inovação e a colaboração são elementos indissociáveis, a contribuição do setor de Comunicação é determinante para garantir essa unidade. Ana Cláudia afirma que é impossível influenciar a cultura organizacional sem pensar na tríade: inovação, comunicação e recursos humanos.
No caso do processo de inovação e do Inova Vale, a parceria estabelecida com os profissionais da Comunicação busca garantir o sucesso desse movimento. “A área atua desde a definição da estratégia, desenhando conosco qual a solução a adotar. Para isso, percebo um forte perfil consultivo e articulador que, em vez de ‘recolher pedidos’, pensa conosco sobre situações-problema acerca da cultura de inovação e estrutura conjuntamente como a Comunicação pode ajudar a lidar com isso”, afirma.
E como construir um ambiente inovador envolve estrutura e cultura da empresa, o comunicador tem diante de si a oportunidade de estimular a mudança de paradigmas nas companhias que ainda não reconhecem a importância da colaboração. Ana Erthal crê que essa é a parte mais complicada. “Se, em meio a esse cenário digital em que vivemos, algumas empresas não reconhecerem a importância de um modelo aberto, horizontal e participativo, talvez essa consciência só seja adquirida quando o negócio estiver comprometido e sem tempo para reversões”, diz.
No entanto, o comunicador não pode se precipitar. Transformar a cultura da organização não é um processo rápido. “O profissional deve dar passos pequenos, mostrando as vantagens do modelo e apresentando os resultados obtidos com a colaboração. A melhor forma de convencer uma gestão a mudar de paradigmas é mostrando resultados melhores”, afirma Ana Erthal.
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