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O fabuloso poder das redes

Myrna Silveira Brandão


‘The social network’, de David Fincher (O curioso caso de Benjamin Button), teve sua première mundial no dia 24 de setembro na abertura para o público da 48ª edição do Festival de Nova York. O filme foi exibido numa sessão especial superlotada para a imprensa. Às 7 horas da manhã, uma enorme fila já dobrava o quarteirão do Lincoln Center para uma projeção que começaria às 9h. Embora houvesse uma grande expectativa para o filme, até os organizadores do NYFF estavam visivelmente surpresos com o tamanho da fila. Baseado no livro O Bilionário Acidental (The accidental billionaire), de Ben Mezrich, o filme aborda os bastidores da criação do Facebook e seu impressionante e vertiginoso crescimento.

A história começa em 2003 quando Mark Zuckerberg, então aluno de Harvard, coloca em prática uma nova ideia que culmina na criação da famosa rede social e o torna o mais novo bilionário da internet. O sucesso, no entanto, vem acompanhado de complicações pessoais e legais.

O livro inclui outros personagens que tiveram papel fundamental na criação do Facebook, entre eles o carioca Eduardo Saverin, amigo de Zuckerberg em Harvard. Saverin foi sócio do site, ajudou a viabilizá-lo, mas, segundo consta, quando o negócio começou a dar certo o americano o excluiu da sociedade e deixou a faculdade de Massachusetts para continuar o projeto.

Saverin, que viveu no Brasil até a adolescência, ficou em Harvard e se diplomou em economia. Ele conseguiu uma indenização cujo montante – como é destacado ao final do filme – nunca foi revelado e o direito de constar entre os fundadores da rede.

Zuckerberg é interpretado por Jesse Eisenberg e Andrew Garfield interpreta Saverin. O cantor Justin Timberlake também faz parte do elenco, vivendo o empresário Sean Parker, um dos criadores do Napster.

Na coletiva após a projeção, da qual participou o Jornal do Brasil, Fincher – que chegou acompanhado pelos atores Eisenberg, Garfield, Timberlake e pelo roteirista Aaron Sorkin – disse que não está simplesmente pegando carona numa trama e que o filme não é apenas sobre o Facebook. ‘Há uma história irônica por trás disso tudo que fala sobre amizade, poder, lealdade e a necessidade de se conectar com outras pessoas. O Facebook trouxe um contexto interessante para um drama fascinante e também ácido’ afirma.

Para Fincher, revoluções genuínas como a que ocorreu com o Facebook são recebidas de diversas maneiras. “Eu, por exemplo, sei de forma muito subjetiva o que significa ter 21 anos de idade, sentar numa sala cheia de adultos e ouvir que sua paixão por alguma coisa é ‘bonitinha’. Isso deixa qualquer um furioso. Normalmente o que acontece é que esse tipo de jovem decide tocar fogo nessa sabedoria convencional e leva seu projeto futurista em frente”, afirma.

Respondendo a uma ‘pergunta que não quer calar’ de um jornalista – até onde o filme é verdadeiro? –, Fincher disse que cada um pode tentar recriar cada detalhe. “A mim, no entanto, o que mais interessava era o ‘Rashomon’ da coisa (filme do diretor japonês Akira Kurosawa que apresenta várias versões para um mesmo fato). Nós não estávamos fazendo um documentário tipo JFK, mas sim um filme onde o ponto principal é que os garotos eram amigos, estavam no porão quando fundaram o Facebook e tudo que veio depois aconteceu no mezanino. O filme é como duas pessoas partem para fazer a coisa certa e no caminho verificam que não poderão completar a viagem juntos’, disse o diretor, enfatizando: ‘Isso é que é verdadeiramente importante”.

Quando foi novamente imprensado para opinar se o Facebook é uma coisa boa ou ruim, Fincher respondeu bem-humorado. “Eu acho que, como qualquer coisa tão flexível e tão poderosa, ele é obviamente as duas coisas. É como o celular, ele é bom ou ruim? – ainda bem que a gente o tem, mas não há dúvida de que o tempo que passamos com ele é excessivo”, comparou.

Sorkin ratificou que tudo começou porque havia um jovem à margem dos relacionamentos pessoais que queria desesperadamente pertencer a um grupo que não o aceitava como igual. “The social network’ é a trajetória de um hacker que se transformou num CEO, e acho que David (Fincher) teve um profundo entendimento para falar sobre ele. Um hacker é essencialmente um anarquista, que, no caso de Zuckerberg, traiu a si mesmo transformando-se num presidente de empresa bilionária”, diz Sorkin, que é muito mais um escritor literário do que um roteirista de cinema.

“Ninguém faz 500 milhões de amigos sem fazer vários inimigos, e isso acontece desde a antiguidade. Os temas do filme são tão velhos quanto a Bíblia – lealdade, amizade, poder, dinheiro, inveja, status social, ciúme. É uma história que, se Ésquilo – ou Shakespeare – estivesse vivo hoje, teria escrito. Para minha sorte, nenhum desses dois estavam disponíveis, e daí eu pude escrever o roteiro”, brinca.

Para Sorkin, Mark era movido por um sentido de solidão e autovalorização, e achava que o mundo estava abaixo dele. “Mas é preciso considerar que ele construiu uma coisa impressionante a partir do nada, enquanto as pessoas ao seu redor o julgavam um nerd e o faziam motivo de gozação”, lembrou.

Eisenberg disse que precisava fazer um personagem com que os espectadores, apesar de tudo, simpatizassem. “Eu quis ressaltar a dificuldade que ele tinha de se comunicar, o que certamente o torna mais interessante. E procurei também fazer dele uma pessoa plena, embora solitária”, disse o ator, revelando que se inscreveu no Facebook para ter um melhor entendimento de Zuckerberg.

Como a autoria do Facebook está envolvida numa teia de suposições, Fincher recorre a vários pontos de vista para mostrar a trajetória de Zuckerberg, seus amigos, inimigos e processos judiciais. “É um filme empolgante, conta uma história complicada de uma forma muito interessante. Há vários personagens dizendo que estão certos e, de certa forma, todos estão”, declara Eisenberg.

Garfield, que tem uma participação importante no filme, contou como se preparou para viver o brasileiro, que desde sua saída de Harvard tem evitado dar entrevistas. “Tentei personalizar Eduardo de uma forma indireta, buscando expressar tudo o que ele sentia”, disse o ator, que protagonizará Peter Parker no próximo Spider-Man, de Marc Webb.

De fato, o Facebook passou à marca de 500 milhões de usuários em julho último e é também objeto de outro livro: ‘The Facebook effect: The inside story of the company that is connecting the world’ (‘O efeito Facebook: Por dentro da empresa que está conectando o mundo’), de David Kirkpatrick.

Hoje pela manhã o noticiário da tevê aqui, que divulgava a abertura do NYFF, ressaltou que Zuckerberg havia acabado de doar US$ 100 milhões para escolas em Newark. Segundo previsão da Columbia Pictures, ‘The social network’ deve estrear no Brasil em dezembro.


Esse artigo foi anteriormente publicado no Jornal do Brasil.

Myrna Silveira Brandão é administradora, jornalista e socióloga. Trabalhou durante vários anos na Petrobras, no setor de Gestão com Pessoas, responsável pelas áreas de Avaliação de Treinamento, de Tecnologia Educacional e de Benefícios, entre outras. É autora dos livros ‘Leve seu gerente ao cinema’ e ‘Luz, câmera, gestão – a arte do cinema na arte de gerir pessoas’, ambos da Qualitymark Editora. Atualmente, assina a coluna ‘Filmes para uma reflexão corporativa’, na revista ‘Gestão & Negócios’, e realiza coberturas de festivais de cinema no Brasil e no exterior.

* Material do portal Nós da Comunicação, disponível em:http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna.asp?panorama=331&tipo=G

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