Joaquim Kavakama fala sobre a aplicação do índice de Felicidade Interna Bruta nas empresas
Christina Lima
Criado na década de 70 no Butão, o indicador de Felicidade Interna Bruta (FIB) surgiu como uma alternativa ao Produto Interno Bruno (PIB) no cálculo de desenvolvimento de uma nação. O conceito engloba nove pilares: bom padrão de vida econômica, boa governança, educação de qualidade, saúde eficiente, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gerenciamento equilibrado do tempo e bem-estar psicológico. O método desenvolvido nesse pequenino reino no Himalaia chamou a atenção de outros países e também do mundo empresarial, que passou a incorporá-lo em processos de gestão.
O engenheiro Joaquim Kavakama, superintendente Geral da Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), empresa de processamento de transferências interbancárias, é um entusiasta do índice. Para o executivo, um dos méritos do FIB aplicado às empresas é “ampliar a consciência individual e coletiva oferecendo conceitos e práticas embasadas em conhecimento científico, que provocam reflexões na vida pessoal, profissional e comunitária”. Essa entrevista é parte de uma das reportagens da próxima edição da revista Comunicação 360°, que vai explorar a importância do humor no ambiente corporativo.
Nós da Comunicação – O direito à procura da felicidade é uma tradição da Constituição norte-americana. No Brasil, o PEC da Felicidade propõe a alteração do artigo 6º da nossa Constituição, que trata dos direitos sociais, acrescentando que a sua obtenção é algo essencial para a busca da felicidade. O Felicidade Interna Bruta (FIB) é um indicador originário de uma decisão governamental no Butão. Como algo de cunho tão particular pode ser institucionalizado por autoridades e por lideranças nas empresas?
Joaquim Kavakama – Para a Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), que busca continuamente e de forma autossustentável prover o sistema bancário e os seus clientes com serviços e soluções inovadoras e seguras, o Desenvolvimento Humano é muito importante. Por isso, investe em programas de capacitação enfatizando a aprendizagem coletiva. Os funcionários adotam algumas práticas antiestresse do FIB, aplicado pelo Instituto Visão Futuro.
Nós da Comunicação – De que forma a disseminação de um bom clima organizacional e do bom humor em uma empresa pode ser uma via de mão dupla, partindo não apenas da chefia, mas também dos funcionários?
Joaquim Kavakama – O clima organizacional é um fator importante em todas as relações e atividades. Na CIP, não é diferente. Todos nós convivemos com diversos agentes estressores no nosso cotidiano, em especial numa metrópole como a capital paulista. No trabalho, alguns deles são prazos de projetos, responsabilidade regulatória e produtividade. À medida que temos consciência de que a nossa capacidade de cuidar do bom humor é que potencializa a capacidade coletiva de sermos mais criativos e produtivos, tudo fica mais satisfatório.
Nós da Comunicação – Você acredita que um recurso como o FIB pode ir além de um índice para se tornar um catalizador de mudanças pessoais?
Joaquim Kavakama – A essência do FIB é ampliar a consciência individual e coletiva oferecendo conceitos e práticas embasadas em conhecimento científico, que provocam reflexões na vida pessoal, profissional e comunitária. Ou seja, à medida que fazemos as escolhas e nos comprometemos com seus impactos teremos consciência da nossa capacidade de beneficiar os ambientes no qual convivemos e, por consequência, a nós mesmos.
Nós da Comunicação – Segundo o FIB, a ideia de progresso é dividida em nove dimensões: bom padrão de vida econômica, boa governança, educação de qualidade, saúde eficiente, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gerenciamento equilibrado do tempo e bem-estar psicológico. No mundo das empresas, esse ‘bem-estar psicológico’ se refletiria no bom humor no trabalho?
Joaquim Kavakama – Em toda dinâmica de grupo é importante que o trabalho tenha um significado individual e coletivo, que inclui o equilíbrio de papel profissional, pessoal, familiar, cidadania etc. O comando e a validade das ações são escolhas da própria pessoa, seja para disseminar o bom ou o mau humor, por exemplo. Eu diria que vai além do bom humor, que é um ingrediente importante sem dúvida. É estar bem consigo mesmo, alinhando os objetivos e valores pessoais aos objetivos e valores da empresa. Ao se ter este tipo de alinhamento, o ser humano pode se desenvolver de forma integral no trabalho e transformá-lo em um amplo campo de aprendizado para seu desenvolvimento como profissional e humano. Ter relações dignas com os colegas e respeitar a diversidade também faz parte do bem-estar psicológico. Provê uma base de confiança para relações e interações maduras.
Nós da Comunicação – Como cultivar o bom humor em tempos de crise? É possível manter uma equipe com espírito elevado quando uma empresa passa por dificuldades financeiras ou quando, por exemplo, em uma fusão colegas são demitidos?
Joaquim Kavakama – Historicamente temos inúmeros casos de empresas que tiveram líderes e liderados que souberam, em meio a crises, inovar e ativar a criatividade para reverter casos de dificuldades financeiras e emocionais em práticas de sucesso. Na maioria deles, o que podemos aprender é que o otimismo, a crença de mudanças internas e externas e o tratamento com dignidade estavam entre as principais atitudes. E justamente as atitudes é que fazem a diferença nestes momentos.
Nós da Comunicação – Até que ponto os profissionais de comunicação são importantes na disseminação de práticas mais ‘humanistas’ nas organizações? Os novos canais de mídia digital podem ser considerados ‘aliados’ no processo de comunicar e aglutinar pessoas em torno de um mesmo objetivo?
Joaquim Kavakama – Nunca se teve tanto acesso à informação como nos dias atuais. Os assuntos mais diversos são abordados e colocados à disposição de toda a população mundial. Nas empresas, o conhecimento é cada ver mais valorizado. Por isso os profissionais de comunicação, que têm múltiplas formas de captar informações, comunicar e transformar informações como alicerce para diversas áreas, são cada vez mais requisitados e se utilizam fortemente dos novos canais de mídia, principalmente a digital. Com certeza as mídias digitais são aliadas importantes no processo de disseminar estes conhecimentos.
Nós da Comunicação – Organizações que semeiam e estimulam o bom humor no ambiente de trabalho colhem que tipo de resultado?
Joaquim Kavakama – Na CIP este bem-estar pode ser traduzido no empenho constante para a mudança de modelos mentais, na liderança da própria vida, no trabalho cocriativo e na conquista de resultados significativos e sustentáveis. A produtividade e a qualidade dos resultados excedem as expectativas. Só para citar um exemplo, depois de implantar o DDA, Débito Direto Autorizado (outubro de 2009), em apenas 11 meses, achávamos que havíamos logrado excelente marca. Porém não imaginávamos que apenas sete meses depois quebraríamos este recorde. O último projeto que fizemos e que implantamos em 1º de julho deste ano, em produção, foi feito em apenas dois meses e meio.
*Material do portal Nós da Comunicação, disponível em: http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna.asp?panorama=371&tipo=E
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