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Diálogo com o empregado: utopia ou realidade?

*Éllida Neiva Guedes


No processo evolutivo do homem, da sociedade e das organizações, as presenças da informação e da tecnologia foram determinantes para as transformações ocorridas nos vários campos e nos comportamentos individuais e coletivos. Na contemporaneidade, as possibilidades tecnológicas e o acesso à informação mudaram de forma mais evidente e rápida o perfil do indivíduo como cidadão, profissional e empregado. Mais informado, cada vez mais ele requer participação nos contextos social e organizacional, o que vem sendo objeto de modernas teorias de gestão, com reflexos nos processos comunicacionais.


Chanlat (1996, p. 41) afirma que “[...] toda sociedade é, com efeito, um conjunto econômico e cultural situado em um contexto espaço-temporal dado [...]”. Assim, as relações de produção, hábitos, valores e recursos, próprios de cada momento histórico, são refletidos nos modos individual e grupal de viver, pensar, agir e se comunicar.


No cenário contemporâneo, as organizações, impactadas pelas ocorrências no macrocontexto, precisam gerenciar seus relacionamentos com base na perspectiva do outro e no intercâmbio de opiniões, além de considerar seus públicos, em especial os empregados, como interlocutores, e não mais como “depositários” de informações que mais interessam a elas do que a eles. Só assim as organizações poderão construir sentido para suas mensagens e ações.


Construir sentido é promover uma comunicação que permita ao empregado entender o que, para que e por que faz, como ele pode colaborar com a organização, aonde esta pretende chegar, o que ela espera dele e o que ele ganha com as ações e decisões que nela ocorrem. Uma comunicação, portanto, que possibilite ao empregado participar, intervir, divergir e, com isso, desenvolver um sentimento de pertencimento à organização.


Para tanto, o processo comunicacional interno deve ir além dos modelos tradicionais e utilizar-se dos recursos que a tecnologia disponibiliza, apropriando-se da interatividade, da rapidez e da simultaneidade que eles oferecem, sem abandonar, no entanto, o estímulo à comunicação face a face, direta, sem intermediações. Apesar da importância da tecnologia nesse processo, a base da interação entre os homens é o universo cognitivo, o repertório de valores e os conceitos próprios de cada indivíduo, com suas perspectivas singulares.


A comunicação interna contemporânea tende a refletir as demandas de uma sociedade que coloca a informação e a participação como centro dos relacionamentos, ampliados e facilitados pelas tecnologias disponíveis e direcionados para (bons) resultados para os negócios. Busca-se, então, dar à comunicação a dimensão e a configuração adequadas aos valores e à complexidade desta era, para que ela acompanhe os movimentos do homem e da sociedade e alcance seus objetivos.


O entendimento da influência de variáveis externas e internas na organização e em sua comunicação pode levar à compreensão de como e porquê a comunicação interna chegou ao propósito de construir sentido para o que se refere à empresa, em direção a “[...] um novo relacionamento em que todos são considerados parceiros, participam do negócio e procuram soluções que sejam boas para ambas as partes” (OLIVEIRA; SILVA, 2006, p. 7).
Naturalmente, a organização que adota esse conceito de comunicação tem seu cenário e estrutura alterados com relação ao controle da informação (e do poder), já que precisa fundamentar seus relacionamentos no intercâmbio de experiências, no compartilhamento de informações e ideias, enfim, no diálogo, em busca do entendimento. Assim, as coisas podem fazer sentido e, quem sabe, gerar (bons) negócios. Utopia ou realidade? Em discussão.


Referências

CHANLAT, Jean-François. “Por uma antropologia da condição humana nas organizações”. In: _ (coord.). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1996. v. 1.
OLIVEIRA, Jayr Figueiredo de; SILVA, Edison Aurélio da. Gestão organizacional: descobrindo uma chave de sucesso para os negócios. São Paulo: Saraiva, 2006.

O artigo foi publicado originalmente na 32ª edição da revista ‘RP alternativo’, do curso de relações públicas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em dezembro de 2008.

Éllida Neiva Guedes é professora de relações públicas da UFMA, mestre em ciências da comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e doutoranda em Altos Estudos Contemporâneos na Universidade de Coimbra, em Portugal.

Artigo retirado do site www.nosdacomunicacao.com

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