Marcas que não inovam morrem! Mas nada é mais complexo do que implementar uma cultura criativa dentro de empresas. Desde a sua existência, o ser humano foi programado para evitar riscos e não tolerar a insegurança. O novo representa inevitavelmente um mergulho em direção ao desconhecido, e quando não se entende, a imaginação preenche as lacunas que se abrem. Consequentemente esses espaços vazios que nos causam temor são onde existe terreno fértil para a imaginação trabalhar, possibilitando a criação e a inovação.
Assim como incertezas, dúvidas e surpresas podem ser o momento ideal para a concepção de soluções inovadoras. Identificar e entender essas novas “realidades”, aceitar que cada estranheza ou dúvida é uma possível oportunidade é difícil e contraditório para a maioria dos gestores, uma vez que o papel das lideranças corporativas é, em grande parte, evitar perdas e garantir resultados. Saber administrar incertezas, que são parte dos processos de inovação, não é fácil.
A busca pelo novo pede roteiros diferentes caso a caso, que se assemelham mais a uma rede interligada e menos a uma linha de pontos sequenciais, o que, para uma mente executiva baseada em raciocínios lógicos e pragmáticos, é bastante complexo. Já para quem cria ou interage com criação, a situação é a oposta: trabalhar com soluções já conhecidas é sinal de que deixaremos a mensagem óbvia, monótona e previsível. Se tudo estiver muito claro e direto, faremos o público sentir-se passivo no processo de comunicação, o que provavelmente diminuirá o seu interesse.
A inovação é entendida como convite para uma nova experiência enriquecedora para a sua vida. Como inovar está cercado de incertezas, é necessário entender o risco ou insucesso como parte do processo. Porém, por natureza, as empresas buscam soluções que tragam segurança, o que, em geral, faz o novo ser um rearranjo do que temos conhecimento e controle. Essa inovação incremental, que é a mais palatável entre os executivos, diante da competição pela diferença, começa a ser insuficiente e paradoxalmente representa o maior risco: o de ser mais um, de ser igual a muitos e desaparecer nesse cenário de hiperofertas. Idealizar, fazer, testar, rever, corrigir, ajustar continuamente passou a fazer parte do ciclo de vida de um produto, e o roteiro para desenvolver propostas inovadoras passa pelo desenvolvimento de diversos testes, prototipagens, refinamentos e monitoramento e reavaliação constantes. Enfim, inovação é um processo permanente, que nunca se encerra. Trabalhar de modo colaborativo com o próprio público já é aceito pelos dois lados, e mecanismos próprios para que isso flua harmonicamente devem ser desenvolvidos.
Fica claro, portanto, quanto é grande o desafio de implantar uma cultura de inovação em corporações que já não a tenham em sua origem. Como resposta a esse desafio, por volta de 10 anos atrás, na Universidade de Stanford, surgiu o conceito denominado como design thinking, que, de modo simplista, pode ser explicado como a resolução criativa dos problemas. Tirando o foco apenas do produto e do cliente e deslocando-o para a experiência de uso, o design thinking utiliza-se do método aplicado por designers e que, até agora, é o que melhor responde aos desafios desta nova era. Nas metodologias de design, entre outras etapas, existe o que chamamos de geração de alternativas. A pergunta frequente é: e se fosse diferente? E se a situação fosse invertida? E se as pessoas tiverem motivações diferentes? E se E se.
A partir desses questionamentos, as oportunidades revelam-se, e por meio do processo criativo, definimos possibilidades nunca antes percebidas. Design é um processo criativo estruturado, e a capacidade dos designers de aprender ao longo do desenvolvimento dos projetos é a maior contribuição que trazem para o modelo inovador. Empresas inovadoras desenvolvem diversas pesquisas e direcionamentos simultâneos, de modo que quando um produto ou serviço é lançado, outros já estão em estudo e, muitas vezes, cruzam-se entre si. Como o tempo para amadurecimento de propostas inovadoras é maior que o para ajustes no que já existe, esses desenvolvimentos superpostos permitem compatibilizar as metas de curto prazo com as de longo prazo. Ao buscar a melhor solução ao longo do processo, designers deparam-se com novos entendimentos e através do ato de tentar traduzi-los e representá-los, derivam para uma forma articulada e sofisticada de retrocriação e novo entendimento do desafio original, o que pode levar à ressignificação do problema.
Mal comparando, é como o trabalho de um antropólogo, que ao estudar outros povos e passar pela tentativa de compreender outra cultura, revisita inevitavelmente a sua própria cultura, ou o de processo de troca de um professor, que ao ensinar alunos, aprende com eles. Simplificando: ao “inventar” o seu próprio entendimento da questão, o designer inova. Em um mundo em constante mutação, mercados nascem e outros morrem em velocidade acelerada.
Novas tecnologias surgem repentinamente e alteram, de modo radical, o ambiente e as condições existentes, exigindo capacidade de adaptação e de criação constantes. Nesse cenário, o design e o raciocínio estratégico apreendido pelo processo criativo são entendidos como impulsionadores para a inovação, com grande poder para contribuir e resolver alguns dos desafios que marcas, produtos e serviços têm no presente e que serão ainda mais latentes no futuro.
Disponível em: http://mundodomarketing.com.br/artigos/ricardo-leite/23455/design-e-o-caminho-para-a-inovacao.html
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