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André Bello: ‘Uma grande contribuição do Design Thinking é o estímulo em enxergar os cenários de forma holística’

Gente confesso que isso era algo que não conhecia e achei bastante interessante e mostra quanta coisa ainda temos para aprender e descobrir no universo da comunicação.

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Dani Cabraíba



André Bello: ‘Uma grande contribuição do Design Thinking é o estímulo em enxergar os cenários de forma holística’

Christina Lima


O consultor em comunicação e design André Bello é um adepto do Design Thinking, processo metodológico que integra investigação, diagnóstico, idealização e prototipagem, em etapas que ocorrem de forma simultânea e em ordens não definidas, de maneira criativa e intuitiva. Para o designer, o melhor caminho para alcançar resultados inéditos é o equilíbrio entre o pensamento racional e o emocional. “Nem todo design thinker precisa ter uma formação em design, mas todo designer deveria ser um design thinker”, acredita.

Bello faz parte da organização do TEDxRio, evento que vai reunir, em 15 de fevereiro, projetos e pessoas que contribuam para a criação de uma cidade melhor. Antes disso, no dia 25 de janeiro, o designer ministra, ao lado de Eduardo Soluri, o módulo ‘Pensando o Design’ do curso ‘A Tecnologia e o Futuro do Conhecimento’ na Casa do Saber, no Rio de Janeiro. Confira a entrevista a seguir, em que o designer comenta ainda a marca dos Jogos Olímpicos de 2016:

Nós da Comunicação – O que é Design Thinking e como o método se relaciona com uma cultura de inovação?

André Bello – Grande parte das pessoas é desencorajada a errar e pensar de forma emocional. Somente uma pequena parcela da sociedade abre suas ideias ao mundo de forma espontânea e sincera. Portanto, o pensamento racional predomina e acaba por censurar a geração de ideias, boas ou ruins.

Em paralelo a esse fator, incorre uma hipersegmentação, tanto de mercado como de informação. Ou seja, chegamos ao ponto em que a sociedade nos impele a saber muito de poucos e determinados assuntos e fechar a mente para outras áreas do saber. Isso é um pecado para a criatividade.

A história mostra que quando se adota o que chamamos de 3º Caminho - uma alternância equilibrada entre o pensamento racional e pensamento emocional - através de um processo intuitivo de associação de ideias multidisciplinares, alcançamos resultados realmente inéditos e não apenas soluções repetidas ou incrementais. Dentro desse processo o erro é um fator positivo que aproxima o projeto da solução.

A adoção de uma nova forma de pensar pelo 3º Caminho, de trabalhar em equipes multidisciplinares e o estímulo a um meio controladamente desorganizado e caótico geram espaços densos em termos de ideias - boas ou ruins, completas ou não. A pluralidade, a conexão e a humildade em receber pensamentos e soluções de pessoas diferentes de nós, permitem que haja colisões, conexões, fusões e combinações entre as ideias, gerando valores, de fato, inéditos.

Resumidamente, as etapas adotadas por este processo metodológico, que hoje denominamos Design Thinking são: investigação, diagnóstico, idealização e prototipagem. Mas não devem ser entendidas linearmente no tempo. Esse processo percorre vários ciclos e saltos durante o projeto e em muitas situações as etapas ocorrem de forma simultânea e em ordens não definidas, portanto, de forma criativa e intuitiva.

Nós da Comunicação – Qual a diferença entre designers e pensadores do design?

André Bello – Nem todo design thinker precisa ter uma formação em design, mas em tese, em minha opinião, todo designer deveria ser um design thinker.

Na prática, o mercado, por meio dessa força de hipersegmentação, acabou por quebrar a atuação do designer. Hoje em dia o designer é convocado apenas para final do processo projetual, por exemplo, para desenhar aspectos estéticos ou de comunicação visual e embalagem, quando deveria estar presente no processo desde as decisões estratégicas das empresas.

Na época que estudei Design na faculdade existia uma separação no curso em ‘Projeto de Produto’ e ‘Comunicação Visual’. Lembro que tive contato com designers de uma geração mais antiga que a minha que já não acreditavam nessa separação e defendiam que o verdadeiro designer deveria estar apto a resolver qualquer problema, seja ele 2D ou 3D.

Em essência, o design thinker deve observar o que normalmente não é visto, escutar o que não é falado, contestar o enunciado inicial do problema e aborda-lo de forma ampla, o que muitas vezes não acontece com o designer. Deve também pensar através do 3º Caminho, consultar, absorver e oferecer conhecimento de/para diversas áreas do saber, trabalhar com a geração de alternativas e filtros de soluções (processo de divergência e convergência) e gerar protótipos e testes desde o início do processo projetual. Tudo isso de forma orgânica, não linear. Assim, estará apto a resolver não só problemas em 2D ou 3D, mas resolverá também problemas em esferas administrativas, mercadológicas, educacionais, sociais, ambientais etc.

Nós da Comunicação – O Design Thinking, mais estratégico, pode ser considerado um processo mais centrado no usuário. Entretanto, todo o modelo mental de criação de produtos e serviços já não é pensado para o usuário/consumidor? Qual o diferencial?

André Bello – Invariavelmente, os enunciados dos problemas já nos chegam de forma viciada por outras visões. Rotineiramente nos faz enxergar o usuário somente no momento do uso/consumo de determinado produto ou serviço. Muitas vezes nos faz até enxergar somente algumas partes do usuário durante o consumo.

Uma grande contribuição do Design Thinking é o estímulo em enxergar os cenários de forma holística. Isto é, de uma forma global, sem a divisão racional entre suas partes. Este estímulo se contrapõe em relação ao arraigado conceito de análise como processo de decomposição de uma substância ou tópico complexo em seus diversos elementos constituintes.

A partir do momento em que nos permitimos apreciar cenários amplos, podemos entender a verdadeira essência do usuário, o verdadeiro universo de atuação.

Da mesma forma que [Isambard Kingdom] Brunel (um dos arquitetos, engenheiros e inventores de maior destaque do século XIX) insistia para que as inclinações das estradas de ferro fossem as mais suaves possíveis para que os passageiros pudessem ‘flutuar pelo campo’, o iPod e iPad não teriam o sucesso que têm hoje se fossem apenas pensados os aspectos ergonômicos do produto.

Houve, em ambos os casos, uma preocupação ampla e um entendimento emocional de processos, usos, consumos e, principalmente, um profundo entendimento da responsabilidade de cada produto/serviço para com seu usuário e sociedade.

Nós da Comunicação – Como o Design Thinking pode contribuir na gestão das empresas?

André Bello – O Design Thinking pode ser adotado por qualquer pessoa disposta a enxergar o mundo de outra forma. Não requer novas tecnologias ou equipamentos, nem custos extravagantes.

Basta mudar nossa forma de pensar, encarando a vida por um lado mais simples e abrangente, com humildade, aceitando e até perseguindo diferenças (fundamentais para a criatividade) e com empatia (no sentido de se colocar no lugar de outro) podemos alcançar um processo de constante aprendizado e consequente desenvolvimento contínuo.

Em termos empresariais, certamente o Design Thinking permitirá um ambiente criativo mais produtivo e mais feliz, desamarrando preconceitos e permitindo novas abordagens para problemas complexos. Aumentam, portanto, as possibilidades de enxergar novos modelos de negócio, novos processos, novos produtos e novos mercados.

No entanto, acredito que o Design Thinking esteja muito além do mercado corporativo e que só possa contribuir na gestão de empresas. Podemos enxergar a sociedade como um grande organismo (ou uma grande organização) e, em termos mais amplos, o pensamento através do Design tem todas as chances de transformar as pessoas em seres humanos melhores, empáticos, humildes e solidários. Pessoas felizes produzem mais. Numa sociedade sustentável e harmônica, certamente as empresas também o serão.

Nós da Comunicação – Qual a sua opinião em relação à polêmica da criação da marca Rio 2016? As semelhanças com outra logo e a inspiração em uma obra de Matisse são consideradas normais ou, nesse caso, houve plágio?

André Bello – No Brasil, me parece, que todas as marcas são polêmicas e encontram sempre possibilidades de plágio (embora ache este um termo muito forte). A marca do PAN 2007 e da Copa 2014 passaram pela mesma situação, inclusive sendo relacionadas a possíveis plágios. Acredito que qualquer que fosse a marca concebida a polêmica, ou no mínimo um desagrado, existiria.

Vejo muitos julgamentos sendo feitos através de gosto pessoal, principalmente em projetos de identidade e sempre haverá pessoas que não gostam dos aspectos estéticos de uma determinada marca. Porém, mais que aspectos meramente estéticos, é preciso entender a busca pelo entendimento universal, o fácil reconhecimento e a carga emocional que é despertada em quem a vê.

Não poderia nunca julgar o trabalho alheio, mas entendo que numa concorrência em âmbito nacional, com mais de 100 empresas trabalhando por uma identidade tão evidente no cenário global, as responsabilidades são enormes. E, consequentemente, as críticas.

Embora não seja exatamente uma questão inédita, a meu ver, o grande mérito da marca, sendo analisada pela ótica do Design Thinking, está em romper o padrão bidimensional na concepção e encaminhar o projeto para uma solução tridimensional, literalmente acolhedora e emocional.

Tenho plena convicção que de que tal resultado, inclusive a inegável referência a Matisse, seja fruto do trabalho em equipe, possivelmente trabalhando em pequenos subgrupos, multiculturais e plurais. Certamente, é fruto de um árduo trabalho colaborativo.

Nós da Comunicação – Qual a sua participação na organização do TEDxRio e o que podemos esperar do evento?

André Bello – O movimento TEDxRio é mais do que apenas um dia de evento, reunindo palestras interessantes, de diversas áreas do saber. O TEDxRio é uma rara oportunidade de gerar um ciclo virtuoso de desenvolvimento social, cuja base é a inspiração e a paixão. Compartilhando ideias dentro de um ambiente multicamadas, esta paixão se multiplicará para além do espaço/tempo físico do evento permitindo melhorias reais e projetos concretos para a nossa cidade. Por isso chamo o TEDxRio de ‘Processo de Transformação’.

No âmbito pessoal, o maior valor que enxergo no movimento TEDxRio é poder trabalhar com amigos, sinceros, verdadeiros, de longa data. Por estranho que pareça, eu pessoalmente já não acredito em divisão entre vida pessoal e profissional. Havendo esta divisão certamente estaria frustrado ao longo do dia em pelo menos uma das duas esferas.

Acredito numa saudável fusão entre vida pessoal e vida profissional, sendo um excelente caminho para a plenitude como ser humano. É aquela velha história: ‘Se você trabalha com o que gosta, nunca mais terá um dia de trabalho na vida’. Acredito que o equilíbrio entre razão e emoção seja o próximo valor na sociedade. Não haverá sucesso sem felicidade.

O TEDxRio é a grande manifestação dessa proposta, de uma forma verdadeiramente democrática e independente, numa cadeia de valor realmente justa, num cenário de benefícios amplos em que todas as esferas (sociedade civil, iniciativa privada, poder público e meios acadêmicos), estarão reunidas para, no melhor estilo Design Thinking, compartilhar ideias, razão e emoção e, sobretudo, para a construção de uma sociedade de fato.

*Material do portal Nós da Comunicação, disponível em:http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna.asp?panorama=385&tipo=E

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